A passagem do jornalista Sidney Rezende pela EBC (Empresa
Brasil de Comunicação), gerida pelo governo federal, durou apenas um mês. O
ex-âncora da GloboNews foi demitido na última sexta-feira (20), mesmo dia em
que Laerte Rímoli foi nomeado diretor-presidente da instituição pelo presidente
interino Michel Temer.
Procurado pelo UOL, Sidney Rezende revela ter ficado
surpreso com a suspensão repentina de seu contrato. O profissional de 57 anos
foi chamado para trabalhar na rádio Nacional, uma das mais antigas do país.
Estreou no dia 4 o programa "Nacional Brasil", das 7h às 10h, e
cuidou da programação matinal da estação. Após duas semanas, saiu do ar.
"Soube pela imprensa na sexta e começaram a me ligar.
Entrei em contato e mandei telegrama, mas não responderam no fim de semana. Na
segunda, a EBC me comunica a 'suspensão temporária de contrato', assinada pelo
Laerte Rímoli. Preciso de uma definição para me empregar em outro lugar.
Tiraram o programa do ar sem que eu soubesse", reclama.
A suspensão do contrato com Rezende foi o primeiro documento
assinado por Rímoli na função de diretor-presidente da EBC, como mostra a
carta, o que surpreendeu ainda mais o jornalista: "Fui pego de surpresa
completamente. Não esperava porque o Laerte foi meu chefe na CBN. Imaginava que
ele assumiria e se apresentasse, mas não houve nenhum contato".
Contratação controversa
Com 31 anos de profissão, Sidney Rezende implantou a CBN
(Central Brasileira de Notícias), primeira rádio "all news" do
Brasil, e integrou a equipe inaugural da GloboNews, primeiro canal de TV
exclusivamente jornalístico.
Apesar da experiência, a ida de Rezende para EBC passou
longe de ser uma unanimidade. Parte dos funcionários e membros do Sindicato dos
Jornalistas do Distrito Federal reprovaram a contratação por ser considerada
"cara" e porque ele ingressou mediante convite, e não concurso
público.
O jornalista esclarece quanto ganhou da empresa pública. Sua
empresa, SR Ideias Assessoria de Comunicação, foi contratada por R$ 480 mil
anuais, divididos em 12 parcelas mensais, mais R$ 27 mil de custos eventuais
com viagens e hotelaria, totalizando R$ 507 mil, valor publicado no Diário
Oficial da União. Após o cancelamento, deverá receber R$ 40 mil pelo único mês
trabalhado.
"Todo mundo falou que ganhei R$ 1 milhão por mês. Achei
injusta a cobertura da imprensa. Cadê a apuração? Se o governo não me quiser,
tudo bem, é direito dele. Falei assim quando saí da Globo. Mas criar uma imagem
inverídica me agride pessoalmente", critica.
Intolerância na internet
A falsa informação sobre o contrato com a EBC fez aumentar a
intolerância e a quantidade de ofensas contra Rezende em seu site e nas redes
sociais, a maioria "denunciando" que ele conseguiu entrar na empresa
pública porque defendia o PT e o governo de Dilma Rousseff.
As críticas ao suposto "petismo" de Rezende
começaram em novembro de 2015, quando ele foi demitido pela GloboNews após 18
anos. Na época, a dispensa foi atribuída a um texto publicado em seu blog em
que criticava a cobertura jornalística de um possível impeachment da
presidente.
"Não fui trabalhar no governo, não sou filiado ao PT.
Sempre defendo isenção, pluraridade, democracia, liberdade de expressão,
valores que acreditava antes, durante e acreditarei depois da EBC", afirma
o jornalista, que apresentou somente 13 programas na rádio Nacional. "Azar
o meu, 13 é PT", brinca.
Após a experiência ruim na EBC, Rezende, que começou a
carreira em uma rádio pública (Roquette-Pinto), descarta voltar a trabalhar em
empresas geridas pelo governo: "Nunca mais. Minha experiência e força de
trabalho foram dados, eles me convidaram e aceitei. Acho que não tenho mais
nada para contribuir. Fui rejeitado por patrões e parte dos empregados.
Paciência".
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