Entre rezas e oferendas, artistas ilustres celebram “santo do sambistas”
São
Jorge realiza o 'milagre' de se dividir em duas crenças. Para
teólogo da PUC-Rio, feriado é o único inter-religioso no país.
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Trio Botafoguense Zeca Pagodinho, Regina Cazé e Hélio de La Peña Foto:G1 |
Equilibrado entre catolicismo e candomblé, sambista que se
preze ignora as contradições entre as duas religiões para comemorar o feriado
de São Jorge, no Rio de Janeiro, neste 23 de abril. O santo, que virou
representação do orixá Ogum quando a Coroa Real proibiu a adoração de deuses
das religiões afrodescendentes, "sambou" para atravessar seis séculos
e se tornar exemplo de tolerância religiosa num calendário laico, mas que só dá
folga em homenagem aos representantes da Igreja.
"É o único feriado inter-religioso, porque todos os
outros são ortodoxos sobre o catolicismo. Como umbandistas e espíritas o
consideram o deus Ogum, São Jorge acaba tendo uma aceitação maior, não só
dentro do catolicismo. Ele representa a metáfora do combate ao mal,
representado pelo dragão", explica o coodenador de Teologia à Distância da
PUC-Rio, Frei Isidoro Mazzarollo.
No mundo do samba, o culto ao santo dá uma das mais claras
demostrações deste sincretismo — isto é, da mistura entre concepções
religiosas.
Entre crentes que rezam ou espalham oferendas pela cidade, a
data acabou ganhando uma conotação ainda mais especial para Zeca Pagodinho.
"São Jorge é o santo dos sambistas. É a minha cultura, eu vim disso
aí", explicou em entrevista no lançamento de seu novo DVD, há uma semana.
Dentre os devotos ilustres, a lista no mundo do samba se
estende de Jorge Ben Jor a Arlindo Cruz, passando por Beth Carvalho e músicos
da MPB como Jorge Vercilo. No teatro, a expressão maior talvez se encontre na
peça "Salve, Jorge", do ator e diretor Jorge Fernando. No início do
espetáculo, uma imagem de três metros do santo é exibida e, no final, a oração
a São Jorge encerra a obra.
"Eu nasci num berço de espiritualidade, sobre a
proteção de Ogum. Em todo aniversário dos meus 7 primeiros anos de vida, ia à
igreja. Depois dos 14 voltei a frequentar para pedir proteção. Para usar minhas
palavras como arma e me guiar nos caminhos. Só quem é devoto entende", diz
o artista.
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