sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Passo Torto, ma non troppo... Na Capital Cearense

Mambembe recebe, hoje, o quarteto paulista, apresentando som experimental de seu novo disco



A capital paulista parece abrigar tantos caminhos sonoros em sua cena quanto são suas ruas, bairros e becos. A metrópole é o espaço gestante das composições do grupo Passo Torto, criado em 2010, reunindo quatro experientes e atuantes instrumentistas desse amalgama sonoro. Pela primeira vez no Nordeste, o quarteto se apresenta, hoje, às 21 horas, no Mambembe - Comidas e Outras Artes.

Formado pelos músicos Kiko Dinucci (voz e guitarra), Romulo Fróes (voz e violão), Rodrigo Campos (voz, guitarra e cavaquinho) e Marcelo Cabral (voz e baixo acústico), o Passo Torto apresenta o repertório do novo disco, "Passo Elétrico" (2013), lançado pelo selo independente YB. O show marca ainda a estreia do projeto "Arrebentação", que concentrará atrações cujo pano de fundo é a relação entre a cidade e seus habitantes. Após o show da banda, a música continua com discotecagem do próprio Kiko Dinucci, Darwin Marinho e Tiago Porto (do bloco Luxo da Aldeia).

Com canções de inspiração urbana, o grupo abre mão de instrumentos percussivos, para entoar compassos e linhas melódicas tortuosas, cheias de acidentes, próprias para caber na poesia que propõem à cidade. Os riffs repetitivos e linhas melódicas sobrepostas compõem a base instrumental para as canções, sem linearidade, e tendo a voz como amarra e fio condutor para os temas.

Eletrificados

A estreia do Passo Torto em disco ocorreu em 2011, com álbum homônimo, em que o quarteto utilizava base propositalmente acústica. Para o projeto deste ano, eles apostam nas distorções, no som metalizado das guitarras e em versos menos explícitos sobre a metrópole como caminho para seguir experimentando.

No novo trabalho, registrado em estúdio e lançado no primeiro semestre deste ano, o grupo agregou a guitarra elétrica à formação e se debruçou sobre as novas possibilidades abertas pelo instrumento.

"A gente gravou tudo ao vivo. Para pouca coisa, gravamos overdubs. É tudo tocado. Não tem nada que vai perceber no show que foi sample", adverte Rodrigo Campos, garantindo que tudo que está registrado no disco será apresentado ao vivo também no palco do Mambembe.

"Passo Elétrico" segue na mesma direção "Passo Torto" - inclusive do ponto de vista gráfico, utilizando xilogravuras de Kiko Dinucci. O uso de efeitos, pedais de distorções e a radicalização da proposta, no entanto, deixa a sensação que a transposição para o palco é algo tão complicado quando a primeira audição.

A exceção da faixa "RáRáRá", samba mais tradicional, pontuado por cavaquinho e bordões de violão, que encerra o disco, o que se escuta é uma seleção de ritmo e estilo não definido, que flerta com a música de concerto, com referências da música brasileira e até, como bem lembra o próprio Rodrigo, com grupos como Pixies e Sonic Youth, que, exploram uma certa tensão harmônica no diálogo entre baixo e guitarras. "Acho que o resultado é fruto muito mais de descoberta do que referências. Da minha parte, eu trouxe isso de maneira mais intuitiva", analisa o músico.

Encontro

Reunindo músicos experientes e atuantes na cena paulista, o grupo divide espaço entre o trabalho conjunto e as propostas pessoais de cada integrante. Romulo Fróes é um dos mais experientes da formação - e influentes, apontado pela crítica como destaque da cena paulistana dos últimos anos. A diversidade de propostas, linguagens e interesses foi o que garantiu a liga entre os quatro.

Contabilizando os dois discos do quarteto, Rômulo já soma seis registros em sua discografia. Em 2010, Rodrigo Campos e Kiko Dinucci foram convidados por ele para dividir um show na "Casa de Francisca", um dos palcos de referência à música independente paulistana.

"Depois disso, começamos a compor, fizemos outros shows. A proposta sonora, de uma harmonia não tão explícita, de usar melodia como riff e base rítmica, nós, de alguma maneira, já desenvolvíamos em nossos trabalhos pessoais", detalha Rodrigo.

O último a integrar o grupo, foi o baixista Marcelo Cabral, convidado durante as gravações de "Passo Torto" (2011), por já atuar como instrumentista com os demais integrantes. Marcelo faz parte da banda de Criolo, dividindo ainda com Daniel Ganjaman (ex-Planet Hemp) a direção musical dos shows do rapper e a produção de seu premiado disco "Nó na Orelha".

Propondo uma música popular nem óbvia, nem rasa, com bastante propriedade o "Passo Torto" soma-se no movimento de busca por novos caminhos à canção, saindo do estrito compasso 4x4, dos ritmos consagrados, misturando, descobrindo e revelando potência instrumental. Longe de tropeçar nas armadilhas que eles mesmos armaram para suas músicas, o quarteto demonstra-se coerente e inventivo. Foge ao linear, mas a passos firmes.

Mais informações

Show do grupo Passo Torno. Hoje (sexta-feira, 13), às 21 horas, no Mambembe (Rua dos Tabajaras, 368 - Praia de Iracema). Ingresso: R$20. Contato: (85) 3048.6060

Disco

Passo Elétrico
Passo Torto
Yb Music
2013, 12 faixas
R$ 22,90

Por: FÁBIO MARQUES


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